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Pessoas com deficiência podem embarcar em missões espaciais?

Pela primeira vez, a Agência Espacial Europeia (ESA) recrutou um astronauta deficiente, também conhecido pela expressão “parastronauta”, para compor a sua equipa. O indicado foi o cirurgião britânico John McFall, de 41 anos, que já foi corredor paraolímpico – ele até ganhou uma medalha de bronze nas Paraolimpíadas de Pequim em 2008.

  • John McFall | Conheça a 1ª pessoa com deficiência física a se tornar um astronauta
  • Este projeto pretende tornar o espaço acessível a pessoas com deficiência.

O anúncio da ESA, feito no final de novembro, é um marco, ainda que tardio, na integração das pessoas com deficiência na investigação especial. Inclusive, a agência espacial é a única a ter alguém com um membro amputado em sua equipe de astronautas e, um dia, pode ser a primeira a levar um indivíduo com deficiência ao espaço. Embora não haja previsão oficial.

“Estou extremamente animado para usar as habilidades que tenho para resolver e identificar problemas e superar obstáculos que permitam que pessoas com deficiências físicas realizem o trabalho da mesma forma que seus colegas sem deficiência”, diz McFall, em comunicado da ESA. .

Afinal, o que é um “parastronauta”?

Para entender, de acordo com a ESA, parastronauta é um termo usado para se referir a pessoas que são “psicológica, cognitiva, técnica e profissionalmente qualificadas para ser astronauta, mas possuem uma deficiência física que normalmente as impediria de serem selecionadas devido aos requisitos imposta pelo uso do equipamento espacial atual”.

Hoje, as tripulações espaciais ainda não sabem como lidar com pessoas com deficiência no meio de uma missão espacial. Por exemplo, pessoas com uma perna amputada se movem com mais facilidade em um ambiente de microgravidade ou precisam de ajustes na estrutura do veículo? Existem problemas extras de saúde e segurança para esses membros da tripulação?

Para ajudar a responder a essas perguntas, a iniciativa AstroAccess simula experimentos na Terra. Por exemplo, pessoas com deficiência já participaram de experiências a bordo do avião G-Force One da Zero Gravity Corporation (Zero-G), como podemos ver nas imagens a seguir:

Programa ESA para pessoas com deficiência

Na ESA, o Projeto de Viabilidade do Parastronauta foi lançado oficialmente em 2021 e diversas ações já foram realizadas para atingir o objetivo de integrar pessoas com deficiência em voos especiais. Nesse cenário, a nomeação de McFall é um ponto bastante estratégico.

O parastronauta passará os próximos 5 anos em constante treinamento e trabalhará com a equipe de engenheiros do Centro Europeu de Astronautas. O foco das atividades será entender quais adaptações são necessárias dentro da aeronave para que o veículo possa receber com segurança pessoas com amputações ou outras deficiências.

No processo, McFall deverá participar de voos espaciais simulados e também entrará em contato com empresas comerciais e outras agências espaciais para compartilhar suas experiências como parastronauta.

Pessoas com deficiência já estiveram no espaço?

Embora McFall seja o primeiro astronauta deficiente a ser recrutado por uma agência especial, pessoas com próteses foram para o espaço. O primeiro e histórico caso é o da norte-americana Hayley Arceneaux, de 31 anos. Enfermeira e pesquisadora, Arceneaux participou da missão orbital Inspiration4, realizada pela SpaceX, em setembro de 2021. Hoje, ela faz parte da equipe médica da empresa.

Adaptações de aeronaves

“A SpaceX modificou o apoio para os pés no meu assento para que minha perna fique mais estendida”, disse Arceneaux ao site Inverse. Isso porque, na primeira simulação de lançamento, “fiquei preso no assento por 2,5 horas”, detalha.

“O apoio para os pés original era difícil de [encaixar a] minha perna. Assim que reconheceram o problema [ergonômico], fizeram reuniões para redesenhar o apoio para os pés”, acrescenta. Após os ajustes, o voo espacial foi tranquilo para o americano.

Futuro: Acessibilidade na Estação Espacial Internacional

Depois de Arceneaux, o parastronauta McFall pode ser a segunda pessoa com deficiência a ir ao espaço. Porém, antes disso, seu trabalho poderia fazer muita diferença na adaptação de estruturas de veículos espaciais — hoje, quase inexistentes.

Vale lembrar que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de deficiência física ou intelectual. Para este enorme grupo, o espaço nunca foi uma opção, mas poderia ser nos próximos anos. Por fim, poderão contribuir com pesquisas dos mais diversos tipos na área espacial e, inclusive, poderão integrar a primeira tripulação que chegará ao planeta Marte.

Gabriel Lafetá Rabelo

Pai, marido, analista de sistemas, web master, proprietário de agência de marketing digital e apaixonado pelo que faz. Desde 2011 escrevendo artigos e conteúdos para web com foco em tecnologia,